segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Geraldo muito além de "dia branco" e "chorando e cantando".



Às vezes lembro alguns luais perdidos no passado do Janga, bairro litorâneo que me criei... Basta ouvir alguma música do Geraldo Azevedo que vou até lá, no passado... Nessas idas tenho medo de ficar por lá. É aquelas músicas manjadonas do Geraldo, como dia branco, trilha sonora que embalou muitos namorinhos nos janeiros de verões. No Janga, na década de oitenta, para conquistar uma gatinha “cabeça”, dia branco no toca fitas do fusca era infalível. Resolvi postar esses dois discos, que marcam o auge da criatividade de Geraldo, que estreou em 1972 ao lado de Alceu, dividindo o disco Quadrafônico – que breve postarei aqui – uma pérola psicodélica pernambucana. Só em 1977 que Geraldo fez sua estréia solo. Dois motivos para mencionar esses dois belos discos aqui: possuí o primeiro vinil em casa e ouvia quando criança. Segundo motivo: tratasse de duas obras primas da música nordestina. Aqui não vais encontrar seus conhecidos “greatest hits” como a citada dia branco ou moça bonita, chorando e cantando, canta coração, dona da minha cabeça...  Mas vai saber o motivo de Geraldo Azevedo manter um público fiel, crescente e que está muito além de dia branco e chorando e cantando. Afirmo que a estréia é quase a continuação do Quadrôfonico, em parceria com Alceu.  Mas se antes a maioria das canções foram creditadas a Alceu, nesse disco de estréia, ficou claro o talento de Geraldo e a quantidade de canções valiosas escondidas na manga. A primeira que abre o disco e a sua carreira solo, cadê meu carnaval, é um samba de terreiro de primeiríssima qualidade, misturando um jogo complexo de palavras africanas, creio que difere de quase tudo que Geraldo já fez. É nesse que tem a clássica “caravana”, transformada em uma suíte – aquela do refrão que arrasta o coro do público em seus shows “la lalala la auê” –  dentro de um bem sacado pout-porri, incluindo talismã e barcarola do São Francisco.  E também tem pedra e cal, que mostra o lado rock e blues de outras influencias absorvidas do esquecido movimento pernambucano “udigrudi”. No disco Bicho de Sete Cabeças que carimbou seu nome e o projetou para todo o Brasil, emplacando a psicodélica e clássica taxi lunar, do power trio nordestino Alceu, Zé e Geraldo, traz canções mais amigáveis com o  rádio. Diga-se de passagem, nesse segundo disco, quase todas as canções foram compostas em parceria com Carlos Fernando, grande idealizador do Asas da America e responsável pela a modernização e expansão do frevo. A viajada taxi-lunar se não foi gravada, foi cantada, tanto por Alceu e registrada pelo parceiro Zé Ramalho no disco Orquídea Negra, mas a gravação de Geraldo é a versão mais conhecida desse clássico lisérgico, praieiro e obrigatório em qualquer luau. Passam anos, passam anas e esse psychedelic hit continua aceso nos violões da garotada das praias pernambucanas. A minha preferida é semente de Adão, presente em tema de novela (mini-série Amazônia) e no disco cantoria I; é perfeita (!), embutida de efeitos orgânicos parecidos com os ruídos produzidos por Hermeto Pascoal. Infelizmente não consegui encontrar as referencias de produção e nem mesmo os músicos que acompanharam Geraldo Azevedo nesses dois discos. Nem no próprio site do artista tem informações. Em bicho de sete cabeças – outro clássico estudado nas universidades de música, pela sua complexidade – ganha letra e voz participativa da então desconhecida Elba Ramalho. Paula e Bebeto de Milton e Caetano e meu pião de Zé do Norte emendada com águas de março de Jobim, com o toque pessoal de seu violão, registrando definitivamente seu estilo único como compositor e interprete. Vale a pena ouvir e ver com outros olhos esse talentoso artista de nossa música popular brasileira. A gravadora poderia relançar em embalagem especial, com encartes, dados de produção e breve estória de bastidores de gravação. Mas a iniciar pelo site do próprio artista, que pouco relata sobre as obras discográficas e motiva canções de altíssimos valores permanecerem escondidas nos lados B.


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