sábado, 30 de julho de 2011

(Edição Especial) - ENGENHEIROS DO HAWAII - Ouça o que eu digo: não ouça ninguém.



É a continuação do disco “a revolta dos dandis” – um clássico do rock nacional – tanto é que as capas são praticamente iguais, mudando apenas as cores, posições fotográficas e símbolos, mas todo o conteúdo sonoro e artístico é com a mesma temática do anterior. E para isso ficar mais claro, a imagem do disco anterior está contida nesse, observe a cima na contra capa do vinil. Toda essa simbologia pop era mesmo para afincar um conceito ideológico. Lembro que ouvia esse disco no auge de minha adolescência, e minhas idéias se expandiam absorvendo suas frases de efeitos. Eu ficava desenhando nas folhas do caderno de matemática as engrenagens da capa do disco... É essa a intenção natural do rock “cabeça”, a sacada de “marketing”, entrar no coração e atingir a mente. O som do “ouça o que eu digo...” é mais limpo, mas a sonoridade anos setenta é “quase” a mesma do disco amarelo que é mais cru. Nesse Gessinger e sua trupe, produziram canções mais harmônicas com o mesmo clima invernal de indagações, efeitos expansivos e provocativos. A guitarra do Augusto Licks ficou mais econômica, já a bateria do Maltz, laconicamente mais limpa – mas sem referencia a bateria do disco “o papa é pop”, absurdamente e audaciosamente new-wave em 1990. Estão aí clássicos com letras atuais – sempre atuais – que hoje o Humberto nem se quer toca em suas apresentações ao vivo, com exceção da inspiradíssima “somos quem podemos ser”, obrigatória em qualquer coletânea descente de rock nacional. Faz-se destaque a bela pop-song – lírica e tensa – “cidades em chamas” com “sampler” de sirenes, bombas – fazendo o ouvinte imaginar o caos de um ataque aéreo – as “dissonanticas” geniais “nunca se sabe”, “a verdade a ver navios”, e as enigmáticas “pra entender” e “variação sobre um mesmo tema”, essa penúltima relida no semi-acústico “filmes de guerra, canções de amor”. As faixas do vinil – hoje facilmente encontrado disponível em CD pelas prateleiras das lojas, com seu gráfico de encarte original reduzido – abusavam propositalmente (e afrontavam) dos trocadilhos inteligentes. Parecia que o Humberto pesquisava um vocabulário para fazer o encaixe perfeito em combinações de palavras irmãs que delicadamente foram unidas nas frases: “o coração sempre arrasa a razão”, “Dylan e seus dilemas”, “quem duvida da vida”, “a vida imita o vídeo”, “que alguém acorda, e a corda arrebenta do lado mais fraco”, “isso me sugeri, muita sujeira”, “havia um romance, ao alcance das mãos”, “que chega a hora de dizer chega”, “adeus a procura de Deus”... Hoje pode ser muito fácil para os novos poetas e compositores construir frases de efeitos, pois está disponível generosamente na internet os avançados sites de buscas. Antes não! Esses jovens tinham que ir aos livros em garimpo de conhecimento. Ato raro hoje num país que simplificou a literatura através da tecnologia. Mesmo assim, com todo mecanismo tecnológico, a criatividade ainda deixa a desejar em relação a geração “oitentista”. E preste atenção no sentido da frase, o disco informa, “ouça o que eu (TE) digo: não ouça ninguém!”, observe que a pontuação – de dois pontos – mudou o sentido da frase completamente! Ele não pede para ser ouvido, e sim sugeri o leitor/ouvinte a não ouvir ninguém, fazer o que pede o seu coração dentro de uma coerência, ou tirar suas próprias conclusões sem influencias, já que o coração arrasa a razão, como diz na faixa escondida cantada por Augusto Licks(!) – mostrando discretamente seu bom e suave vocal – de “variações sobre um mesmo tema”. Nessa última que fecha o disco, é apresentado no corpo da composição três possibilidades de rock progressivo. Na provocativa "tribos e tribunais", em uma estrofe da letra, o trio já profetizava o "presidente operário", em 1988. Acertou no pé d'ouvido, a mensagem do "head rock" sempre será atual. “Ouça o que Eu Digo: Não ouça Ninguém” foi o motivo e o elemento básico para o arrebatamento de um enorme rebanho de seguidores dessa banda, que fez historia na vida de muitos adolescentes ávidos por canções embutidas de informação, aliteração e poesia.

Gamma

****** clássico - presença obrigatória em sua pratilheira sonora.

Onde encontrar: além de ser formato fácil em download pela internet, encontra com preço acessível nas lojas de CDs. Baixe, mas compre o CD, vale a pena!

Arquivo MP3 para download: