Quando morava mais só do que merecia, ouvia bastante as coletâneas do produtor
Thomas Hartlage, que garimpou a música psicodélica do mundo, a registrando em dez volumes, incluindo o Brasil. Eu possuía todos os volumes rodando em meu aparelho de mp3. Era no minimo viciante. As bandas eram dos anos 60 a 70, e impressionantemente “
undergrounds”. Esse produtor não incluiu bandas de “sucesso”, são quase todas desconhecidas. Até mesmo o volume seis, do Brasil, em maioria as músicas são de artistas solos desconhecidos e bandas obscuras dos anos 60/70. Do volume oito,
African Psychedelic, uma banda me chamou atenção:
Abstract Truth. Descobri através dessas coletâneas que não eram apenas os americanos e ingleses que entendiam de ROCK. O
Abstract Truth pode ser um marco
underground da criatividade da África do Sul. Lançaram apenas esse dois discos
Totun e
Silver Trees, e o segundo com prensagem limitada de 500 LPs. O primeiro(
Totun) é composto basicamente de regravações com sotaque próprio e arranjos quase que imperceptíveis – destaco uma linda versão para o sucesso popular “
summertime”. Nos dois discos, algumas faixas são cantadas e outras instrumentais. As faixas cantadas são calcadas no
folk. Nesse
Totun podemos afirmar que a flauta ganhou mais evasão que o sax. É o
jazz africano que quase não difere do
jazz brasileiro. O segundo LP
Silver Tees é de composições próprias, absurdamente
cool , mais
pop que o primeiro e com regradas doses de psicodelia. Os dois trabalhos do
Abstract não fazem feio as bandas inglesas como
Traffic e
Jethro Tull. Impressionava-me e causava-me sensação agradável ao ouvir instrumentos étnicos embutidos dentro do
jazz cool, com teores razoáveis de psicodelia e solos sofisticadíssimos de guitarras. Era como se Hermeto Pascoal e Nana Vasconcelos encontrassem
Frank Zappa e
Miles Davis no estúdio, dentro de um só formato sonoro. Muitas vezes o solo da flauta não faz a falta da guitarra. Mas sim(!), a guitarra sempre lá, embebida de
grooves e efeitos, dividindo constantemente espaço com o
jazz, dentro de um equilíbrio estranhamente perfeito e orgânico.
Destaque para
summertime do Totun, e,
in a space do Silver Trees, que criam climas e lembranças.
Vale mencionar o nome desses maravilhosos músicos.
Ken E. Henson (guitarra, vocais); Peter Measroch (piano, órgão, flauta, cravo, vocal), George Wolfaardt (baixo, flauta, bateria, vocais); Sean Bergin(saxofone, flauta).
Nem mesmo na wikpedia encontrei informações mais completas sobre o Abstract Truth.
Vale ouvir saboreando um vinho, geladérrimo ou fazendo um turismo cool pelos caminhos da Amazônia(infelizmente ameaçada de morte por garimpeiros, fazendeiros, políticos gananciosos, madeireiros, caçadores...(!)).
Obs: são os dois discos em um só arquivo.
Pode baixar e ouvir sem moderação:
Gamma